A nutrigenômica é a ciência que se concentra na interação entre a nutrição e o genoma de um indivíduo, é uma promessa para identificar fatores nutricionais que podem afetar a expressão gênica durante a pré-transcrição, a transcrição e a pós-transcrição, com ampla aplicação para estratégias de promoção da saúde, redução do risco de doenças, melhora da resposta a terapias para tratar doentes crônicos, retardo do envelhecimento e melhora do desempenho esportivo.

Alterações na expressão gênica estão envolvidas no desenvolvimento das diferentes DCNT. Nutrientes e compostos bioativos apresentam diferentes alvos moleculares e podem apresentar ações benéficas ou deletérias, dependendo de quais genes têm a expressão alterada.

A partir do Projeto Genoma Humano, constatou-se que, apesar de apresentarem fenótipos bastante distintos, humanos apresentam identidade de 99,9% entre seus genomas. Assim, a diferença de 0,1% na sequência genética está relacionada não apenas a características como peso, altura e cor do cabelo, mas também a necessidades de nutrientes, resposta à alimentação e risco para DCNT.

Nutrigenômica baseia-se nos seguintes princípios (Kaput, 2005):

  • Dietas inadequadas em determinados indivíduos e em determinadas situações representam fatores de risco para DCNT;
  • Nutrientes e compostos bioativos normalmente presentes nos alimentos alteram a expressão gênica e/ou estrutura do genoma;
  • A influência da dieta na saúde depende da estrutura genética do indivíduo;
  • Determinados genes e suas variantes comuns são regulados pela dieta e podem participar de DCNT;
  • Intervenções dietéticas baseadas na necessidade e estado nutricional, bem como no genótipo, podem ser utilizadas para desenvolver uma nutrição personalizada que otimize a saúde e previna ou mitigue DCNT.

Um exemplo interessante com relação à nutrigenômica é a regulação das respostas imune e inflamatória mediada pelo fator nuclear Kappa B (NF-Kappa B).

O NF-Kappa B é um fator de transcrição presente no citosol das células em uma forma inativa por causa de sua ligação a outra proteína, o inibidor de Kappa B (IKB). Quando há um estímulo, o IKB é fosforilado e o NF-Kappa B se dissocia e tornar-se ativo, capaz de migrar para o núcleo celular, no qual se liga a ER em regiões promotoras de genes, estimulando a transcrição destes. A ativação do NF-Kappa B pode ser ocasionada por uma ampla gama de estímulos, incluindo citocinas pró-inflamatórias, espécies reativas de oxigênio (ERO), bactérias, vírus, radiação UV e ionizante.

Uma aplicação promissora da Nutrigenômica refere-se à modulação da inflamação, que tem papel importante na obesidade, já que esta doença produz, em baixo grau, um quadro de elevação de substâncias inflamatórias na circulação. Assim, através desta ciência, foi possível descobrir alguns alimentos que reduzem o quadro inflamatório.

Cabe destacar que a inflamação crônica, induzida pelo excesso de gordura corporal, particularmente a obesidade visceral, é um dos fatores desencadeantes da resistência periférica à ação da insulina — que precede o diabetes tipo 2, bem como a Síndrome Metabólica.

Diferentes alimentos contêm compostos bioativos com ação anti-inflamatória. Dentre estes compostos bioativos, incluem-se o ácido caféico (erva-mate), a quercetina (frutas e hortaliças), o tirosol (azeite de oliva extra virgem) e o licopeno (tomate, goiaba, melancia), que inibem a expressão de genes envolvidos no processo da inflamação. Ações similares foram descritas para o ácido elágico (abacate, morango), resveratrol (vinho tinto), indol-3-carbinol (cebola e repolho) e o gingerol (gengibre). Porém, a curcumina (cúrcuma) e o chá verde apresentam os compostos bioativos mais potentes na redução da inflamação.

Os lipídios da dieta também exercem efeito relevante na modulação da resposta inflamatória. Ácidos graxos saturados ativam a via de sinalização para a inflamação, enquanto os poliinsaturados da série ômega-3, presentes em quantidades significativas em peixes e óleos de peixe, apresentam efeito oposto, ou seja, inibem a atividade inflamatória.

Recentemente, Gahim et al (2010) demonstraram que o consumo de uma refeição com carboidratos e alto teor de lipídios induz a expressão de citococinas pró-inflamatórias, e que esse efeito é reduzido se a refeição for consumida com suco de laranja. Esses efeitos são atribuídos à inibição quase total da formação de ERO (Espécies reativas de oxigênio) com a redução da ativação NF-kappa B. Além da vitamina C, dois outros flavonoides, a naringenina e a hesperidina, são responsáveis por reduzir a formação de ERO.

Além da obesidade e DCNT, a nutrigenômica esta sendo aplicada na terapia e estudo da gênese de diversas outras doenças. Dentre elas podemos citar o câncer de intestino. Recentemente, em um estudo realizado na Universidade de Newcastle, no Reino Unido, foi evidenciado que níveis elevados de vitaminas do complexo B estão associadas ao desenvolvimento de câncer de intestino, e, paralelamente, a vitamina D e o mineral selênio em doses adequadas estão relacionados à prevenção deste mal, que acomete principalmente homens com mais de 50 anos. Vale ressaltar aqui que a obesidade também é fator de risco para este tipo de câncer.

Uma alimentação personalizada, baseada no DNA, representa alternativa promissora para estabelecimento de recomendações nutricionais mais direcionadas e efetivas para promoção da saúde. Para que isso se torne realidade é necessário que diferentes desafios sejam superados. Mais pesquisas na área e acessibilidade da população aos exames necessários para avaliação genética são exemplos.